...:: NagNagNag ::...
TRASH já era! O hype de Londres agora é a NagNagNag @ Guetto.
Com nome tirado de uma música do Cabaret Voltare, essa festinha de electro-clash pra lá de hypada acontece todas as quartas feiras. Só para vocês terem uma idéia dia 12/02 vai ter show do Mechanical Cabaret e dia 12/03 discotecagem da Princess Superstar. Em uma palavra: T.U.D.O.!
Uma amiga foi quarta passada e olha só o que ela conta:
"Quando alguem fala que algo eh muito bom, ou muito ruim, desconfie. Pra nao se decepcionar. De algumas semanas pra cah uma tal noite, chamada Nag Nag Nag, num tal clube, chamado Ghetto, reduto pseudo-gay de Londres, estah dando o que falar. A noite em questao simplesmente foi eleita como uma das melhores e mais animadas de 2002 pelas revistas NME, The Face e Time Out. Pensei com os meus botoes: "Pombas, eles nao podem estar errados. Vou conferir." Fui conferir. E nao estavam nem um pouco errados.
Londres estah passando por uma moda, ou febre, ou ha quem diga que jah virou "cena". E quando vira cena aqui, meu bem, eh porque o negocio eh serio mesmo. Eh a tal cena electroclash.
Pra quem ainda nao conhece, o eletroclash eh uma releitura do synth-pop dos anos 80, mas muito mais pesado e mais sexy. Porra, lah vem os anos 80 de novo! Calma, porque nao "eh" anos 80, nao estamos mais nos anos 80, eh soh algo para se ter como referencia. Eh musica eletronica pura, que flerta com o EBM e o new-romantic, cheio dos bleeps, dos korgs e moogs. Aquele sintetizadorzao detonando nos graves, tipo "uoooooom", com uma batida ultra-dancante, marcada, sincopada e letras (?) pra lah de sacanas.
E, obviamente, principalmente aqui em Londres, toda cena musical tambem tem seu apelo visual. Os cabelos fazem Eduardo Maos-de-Tesoura corar. Assimetria eh a palavra-chave, em tudo: cabelos assimetricos, roupas assimetricas. O novo combinando com o velho, roupas de brecho com acessorios de vinil, bizarrices, maquiagens estapafurdias, meia arrastao fluor, polainas com salto alto. Quanto mais estranho e absurdo, melhor.
Pois bem, resolvi ir na tal de Nag Nag Nag na quarta-feira e, melhor ainda, estaria de folga do trampo na quinta-feira. Resolvi aproveitar. Chego as nove, pois na quarta anterior nao tinha conseguido entrar e nao estava afim de passar tres horas na fila, desfrutando de um friozinho basico de zero grau. Quando cheguei era eu e mais um grupo de Nova Iorquinos, muito bacanas por sinal. E, diga-se de passagem, todos os Nova Iorquinos que trombei por aqui sao nota dez.
Estava na fila tambem uma sapata, bolachona mesmo, inglesa, lah pelos seus 30 anos, muito simpatica, a Julie. Nos conhecemos na hora, na fila mesmo. "Tres meses atras esse lugar nao era nada. Tinha soh meia duzia de gatos-pingados na pista. Hoje o povo sai no tapa pra poder entrar aqui." - ela disse. "Virou moda mesmo, nao?" comentei. "Virou. Bom, mas... eh Londres. E Londres eh assim". Nao soh Londres, Julie, mas qualquer lugar do mundo.
Okay. O clube abre pontualmente as dez e meia. Otimo, pois nao estava mais sentindo os meus pes de frio. Preco do ingresso: 4 libras. Uma pechincha. Mas o povo pagaria ateh 20 libras pra entrar, certeza. Quando entro, estah tocando "Big Muff" do Depeche Mode. Que nostalgico... E na primeira meia-hora nao tocou nada muito diferente de Gary Numan, Kas Product e outras bandinhas de synth-pop que, no Brasil, no maximo voce soh ouviria numa casa gotica com um DJ muito, mas muito inspirado.
Nao deu mais meia hora e a casa jah estava praticamente cheia. O lugar nao eh muito grande. Eh um porao bem iluminado, com teto baixo e paredes pintadas de vermelho. Nada de iluminacao sofisticada, nada de estrobo, soh umas luzinhas coloridas bem uoh. O sistema de ar-condicionado melhorou horrores, pois o lugar ha duas semanas atras literalmente fervia. Amigos meus nao se arriscavam a tomar ecstasy por lah, com medo de desidratacao. Sentiu o drama? Mas a ventilacao dessa vez estava perfeita.
As musicas comecavam a ferver a pista cada vez mais. O synth-pop estava dando lugar ao electro. Hora de dancar. Ok, a casa estava um pouco cheia, mas suportavelmente cheia. O lugar eh pop, fazer o que?
Jah estava na terceira cerveja, quando aparecem bem na minha frente um anorexico de dois metros de altura com um moicano loiro, vestindo soh uma sunguinha de vinil branca e uma mascara sado-maso e outro, gostosissimo, vestido de homem-aranha, mas sem a camisa. Lembro muito bem, estava tocando "Danger! High Voltage" do Electric Six, que jah virou hino por aqui. "Danger, danger! High voltage! When we touch..." e maozinha dele passeando por aqui... "...when we kiss..." ah, meu nao resisti e dei um beijinho no peitinho da aranha com piercing. O, delicia!
A Julie, que estava do meu lado soh vira e diz: "Agora voce sabe porque o povo sai no tapa pra entrar aqui..." E eu soh concordei com a cabeca.
Depois me vem uma italiana de topless bem na minha frente. Voce leu bem? Topless. Eh, sem nada, soh um piercing em cada teta e uma saia escocesa azul. Coragem, hein? Pelo menos tava tudo no lugar. Comecou a dancar perto mim. Aimeudeus. Mas nao deu em nada nao. Mas se eu desse mole acho que... bom, deixa pra lah. Eu soh tava afim de dancar.
Meu modelito? Pra falar a verdade eu tava bem "normalzinha": uma camiseta vermelha do Kraftwerk, arm-warmers listrados, calca jeans ateh o meio da canela e um all-star vermelho.
Virei pra tras e o Boy George, lindissimo, estava no bar conversando com os amigos.
A Julie jah tava meio estressada de ficar na pista e fomos pro chill out. Apesar de eu nao querer sair da pista por nada. O negocio tava ficando bom... As musicas, uma melhor que a outra, mas enfim, resolvi ir pro chill-out. O legal eh que dava pra dancar lah tambem, entao ela sentou um pouco e eu fui me esbaldar mais ainda. Viro pra direita e o Neil Tennant dos Pet Shop Boys estava lah. Dei um sorrisinho tipo "Eu conheco voce!" e ele riu de volta. Simpatico.
E dancando sem parar...
Um cara lindo, um loiro de um metro e oitenta me dah um puta dum malho do nada. Aquele beijo que quando voce percebe jah foi. Mas nao reclamei, o cara era lindo mesmo. Ele nao perguntou o meu nome, nem de onde eu era, nem o que eu fazia da vida. Coisa mais cliche... Ele soh me deu um beijo. Porra, que tudo!!!
"Voce estah aqui de ferias?" - perguntei. "Eu morei aqui ha dois anos, agora estou indo embora pra Vancouver." Ah... canadense...
Oh-oh. Acenderam as luzes. Hora de ir pra casa.
Eu nunca tinha visto uma Londres tao animada. E as pessoas nao pareciam tao lesadas assim. Quando londrino ri demais, voce jah desconfia que ele jah tomou um ecstasy ou coisa assim. Mas o povo estava animado mesmo. Todo mundo dancando, celebrando a alegria de estar num lugar legal, com pessoas legais, com musica legal. Celebrando a alegria de estar vivo.
Tive a impressao por um momento de estar participando, ainda que no sentido mais ingenuo da palavra, de um momento historico. De estar num clube que vai deixar sua marca, como o Hacienda ou o Studio 54.
Se o electro for tudo isso que eu vi e senti na Nag Nag Nag, vida longa ao electro.
Antologico."
Enquanto isso, aqui em São Paulo, nós vamos de Carnaval mesmo.......
O legado continua...
Há 17 anos
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